quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Palestra Tema : ESCOLHAS

Base Evangélica: " Buscai e Achareis." Jesus ( Evangelho de Mateus ,Capítulo VII / O Evangelho segundo o Espiritismo,Capítulo XXV)








INTRODUÇÃO


- Falar sobre o uso de drogas , nem sempre é tratar de substâncias e seus efeitos no sistema nervoso central.


- O uso ou não de drogas é uma opção , como tantas outras opções que temos a fazer na vida, ou seja , nossa vida é o resultado de nossas ESCOLHAS.


- Caberá a pergunta: Por que alguém opta por usar drogas ?





DESENVOLVIMENTO




- Imaginemos, neste momento, a nossa frente , uma bandeja de frutas variadas, sendo que parte das frutas está em boa condição de consumo e outra parte está podre.
Se lhe for oferecido se servir , você escolherá uma fruta sadia ou uma fruta podre?




- Isto aparentemente parece óbvio. Qualquer um de nós optará pelas frutas sadias.Mas, será que todas as vezes que a vida nos oferece mais opções, nós escolhemos a parte sadia?
Aquela que não nos trará perdas ou prejuízos.Será que nos afastamos da banda podre da vida com a mesma clareza com que optamos pelas frutas sadias da bandeja?




- O que será que nos faz em determinadas situações da vida optar por experiências que nos farão sofrer graves consequências ?


Resposta: O despreparo ( imaturidade) lógica e emocional em relação a estas experiências



- Como alcançar esta maturidade lógica e emocional ?


Resposta : Através de uma educação formadora de hábitos e forma de pensar sensatos, com foco no exercício gradual do livre arbítrio.




- Tudo isto começa com pequenos detalhes em tenra idade ( arrumar seu quarto/cama; guardar seus brinquedos,tratar de suas tarefas escolares, lavar sua roupa íntima,ajudar na tarefa doméstica,etc) com os pais transferindo a responsabilidade ao filho para fazer o que já lhe é compatível fazer.Não deixar o filho assumir obrigações consigo mesmo e com o ambiente de convivência é dizer-lhe surdamente : VOCÊ NÃO É CAPAZ ou VOCÊ É UM INÚTIL.




- Imaginemos esta mensagem no inconsciente de um ser em crescimento de auto-afirmação. Qual será sua auto-estima ? Sua visão de si mesmo ?






CONCLUSÃO




- É preciso prepararmos uma trajetória de um ser em crescimento, através da auto-confiança, superando desafios, apesar dos insucessos, que são fatos naturais na trajetória humana.




- Esta auto-estima fará com que o ser busque sempre soluções possíveis, sem recorrer por extrema insegurança pessoal no seu potencial, a atalhos artificiais ( drogas ) por uma enganosa superação.

Um Olhar mais Adiante

"Nós conseguimos,essa posse mostra que tudo o que passamos valeu a pena"
Rose Nogueira ( Companheira de prisão da Presidente Dilma Rousseff)





O predomínio desta visão acanhada de poder nos garante que ainda temos muito a avançar. O poder pelo poder. As lutas se encerram por se alcançar os mais altos postos.Como se isso só bastasse para estabelecer as mudanças estruturais de que a Nação tanto carece.Por isso , depois fica fácil ufanar-se do mínimo feito ou justificar-se de que se mais não se fez foi em razão do espólio social herdado.Pura mediocridade.





A presença deste ou daquele personagem ilustre ou menos expressivo na Presidência da República não garante a efetiva realização das metas necessárias anunciadas, pois estar a frente do Executivo é além de traçar as condições favoráveis para alavancar o bem-estar de todos , é administrar as diferenças de enfoques das diversas ideologias políticas para alcance desse bem-estar.É uma luta permanente de interesses que devem ser conduzidos pelo tirocínio pragmático de atendimento racional e duradouro das necessidades fundamentais da digna cidadania desde a base da pirâmide social até seu topo.




Esta hercúlea missão vai além da posse e se projeta além dos atuais protagonistas, pois a Nação só terá alcançado sua maturidade confiável no instante em que o organismo social estiver devidamente composto de vários instrumentos representativos da realidade do povo e sejam atuantes dentro dos limites legais, sem excessos terroristas ou de guerrilha urbana, e independentes dos aparatos e benesses governamentais, ou seja, sindicatos que traduzam a real condição ainda dos trabalhadores mal remunerados ( aeroviários, policiais,professores,etc) e não estejam amordaçados pelo conluio de seus dirigentes com a manipulação governamental.




O papel intransigente do Estado deve ser promover a sociedade civil a ocupar seu papel intransferível de co-participante das soluções , através da constante troca de informações. Não engajar a sociedade neste processo é fadá-la à mórbida situação de dependência do Estado patriarcal,em moldes modernos de “ vales e bolsas”, com a terrível necessidade de sempre criar um “ salvador da pátria”, sempre prestes a ser “canonizado” pelo suicídio ou pelas estatísticas de aprovação de seu governo.



Esperemos que a Presidente atual não tenha também esse cacoete, e opte seriamente por trabalhar de forma dura por reformas que pavimentem a estrada de libertação do povo brasileiro da miséria social e das idéias.

sábado, 30 de outubro de 2010

A MORALIDADE NÃO PODE ESPERAR

A Nação se volta para a decisão do Supremo Tribunal Faderal para julgamento da constitucionalidade da aplicação imediata da Lei da Ficha Limpa já para o pleito do próximo 3 de outubro, e a decisão do STF é adiada em razão do empate dos votos dos ministros (4 x 4 ).

O Princípio Democrático de Direito tem como fundamento consagrado no artigo 37, da Constituição Federal, a MORALIDADE, e imediatamente no inciso I, do mesmo artigo, define que " os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei ..." . A Lei da Ficha Limpa é uma alteração à Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que já estabelecia casos de ineligibilidade, que foi reforçada pelo quadro social político agudo da conduta ético-moral dos candidatos propostos pelos partidos e eleitos por uma população descompromissada com a retidão moral dos seus representantes, por entendê-loscomo símbolos do sucesso da ilegalidade sobre um sistema social opressor, marcado pela injustiça da pouca oportunidade para muitos e vantajosos para poucos apaniguados. Todavia, um erro não justifica o outro.E é chegada a hora do STF ofertar sua contribuição para depuração das lideranças políticas, pois sem política (digna) não há povo civilizado.

Acredito que todos concordemos com esta última afirmação, mas precisamos apresentar a razão principal para o STF emprestar seu apoio à aplicação imediata à citada lei.

A MORALIDADE é fator imprescindível à função pública, epor isso se faz urgente, urgentíssimo, que a lei tome efeitos imediatos.A Moralidade é a SAÚDE da vida pública. Se a Moralidade está ameaçada pela incursão de transgressores da Lei, segundo o entendimento de um colegiado de juízes, a saúde da sociedade está periclitando, e nada mais responsável e plausível do que uma " intervenção" em caráter imediato, pois a MORALIDADE, como a SAÚDE, não pode esperar, sob pena de por inépcia da sociedade, preencher-se as vagas das representações políticas com elementos provadamente venais.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Jesus, o Psicoterapeuta

Ainda no cumprimento do seu messianato, Jesus se valeu da indagação feita se ele poderia interferir numa partilha de bens de uma herança, e advertiu não ser esta sua finalidade ( Lucas 12,13-14). O Cristo não veio até nós para tratar das questões materiais, imediatistas, e sim do essencial ( Mateus 6,21-22). Sua missão é de um terapeuta do espírito, tratando de todos aqueles que se aproximam de sua mensagem na sua natureza mais íntima. Ensinando-nos a perseguir a meta de libertação pela afirmação de nossas individualidades, confiantes de que cada experiência, agradável ou não, é parte integrante desse aprendizado. A relação de Deus conosco não é punitiva, mas educadora, por isso nos confrontamos com as conseqüências de nossos atos de ontem e hoje, por medida de responsabilização. Eis algumas dessas orientações fundamentais deste psicoterapeuta por excelência para nossa escalada no domínio equilibrado e harmônico dos valores eternos do espírito:

1) “ Ajuda-te e o céu te ajudará “

AUTONOMIA – É o ponto de partida de qualquer um de nós em razão das mudanças estruturais em nosso ser. Quando adoecemos na alma, nossos argumentos sempre focalizam mais os outros, sobretudo responsabilizando-os pelo que nos ocorre, distanciando-nos da autoria dos acontecimentos em nossas vidas que nos infelicitam. Tudo nos atinge por total aprovação e permissão nossas. Qualquer benefício ou ajuda, mesmo espiritual, virá ao nosso encontro se decidirmos autonomamente por nos fazermos alvos da ajuda. Esta é a primeira grande noção de limite. O limite da competência sobre nossos destinos: cuidarmos de nós mesmos.


2) “ Seja teu dizer: sim, sim; não, não “

ASSERTIVIDADE – É a profunda relação de coerência entre o que pensamos e o que manifestamos. Em geral, nossas percepções íntimas acerca de fatos e pessoas, são guardadas a sete chaves, por considerarmos que as nossas impressões não devem ser ditas. Com isso “ engolimos sapos” , nos desagradando e agredindo-nos, por acharmos pior contrariarmos o outro,sob a alegação de que o outro pode se chatear e quem sabe se afastar. Tal postura nos coloca em posição de únicos responsáveis pela manutenção das relações de amizade, parentesco, etc., mesmo que discordemos de determinados aspectos na conduta do outro, sem que aja abertura para externarmos a discordância. Esta forma desigual de relacionamento leva muitas vezes a situação extremas, pela insustentabilidade da tolerância com os desconfortos auto-impostos, ocorrendo o que se chama comumente: explodir na hora errada, e de forma exagerada, com cobrança de juros de mora. Por ter contido sua insatisfação pessoal para não ser desagradável ( a quem ?), a pessoa acaba assumindo uma atitude extremada, falando descontroladamente suas razões, causando um impacto violento no outro.Tudo isto por não ter um compromisso primeiro com suas aceitações, e definir de forma nítida e tranqüila a sua impressão sobre a situação, na medida em que se faça necessário, sem tardança.


3) “ Brilhe a vossa luz “

SINGULARIDADE – Somos uma incógnita de possibilidades. Guardamos inúmeras opções de realizações, dependendo dos estímulos que surgirem em nós, em face dos desafios do ambiente. Condições temos de superar esses desafios, desde que tenhamos sido conduzidos , desde cedo, em acreditarmos no resultado dos nossos esforços , do investimento de cada um em sua Inteligência e Sentimentos, o que nos torna singulares, incomparáveis. Ninguém faz nada exatamente igual ao outro, temos inclinações próprias que nos caracterizam a individualidade, e que nos personificam.Valorizemos nossas diferenças, pois elas reafirmam nossa importância no grande concerto da vida.


4) “ E que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil “

RESILIÊNCIA – Esta noção está profundamente ligada a resistência à frustração e ao desânimo. Nosso imediatismo e prepotência exige que as soluções das dificuldades sejam instantâneas, mas a realidade nos exige um pouco ( muito!) mais. É preciso reconhecer que os desconfortos podem ser gerados por questões que envolvam outros, e que só poderemos alterar a parte que nos toca, e até que os fatores independentes se alterem, boa parte do desconforto se manterá. A não ser que de nossa parte desenvolvamos novas habilidades para irmos além dos nossos limites de resistência atuais, ao contrário de quando dizemos: sou assim mesmo, não mudo. Desencravar crenças enraizadas e atualizá-las para sobreviver as dificuldades é um ato de extremo amor por si mesmo. É ir além do que se imaginava que poderia, é admitir a feição educadora da realidade.


5) “ O Escândalo é necessário, mas ai daquele por quem venha o escândalo “

EXPERIENCIAÇÃO – A vivência pessoal das emoções e sentimentos é insubstituível. É a oportunidade de aferir valores que nos esclarecem a realidade, nos fazendo perceber os pontos truncados que nos fazem sofrer. Sentimentos foram feitos para serem sentidos, e a nossa busca pessoal, sem medo, é que faz percebermos com clareza nossa natureza interior e seus mecanismos próprios de gerar bem e mal estar.O escândalo simboliza todo e qualquer desajuste com suas naturais consequências de impacto em nosso meio.
Importa reconhecer que a vida , a nível humano, não prescinde do equívoco, como instrumento necessário ao nosso auto-conhecimento. Não temos porque estigmatizar o erro como mau, pois através da sua necessária vivência descobrimos quem somos, sem máscaras, podendo optar por mudanças, se preferirmos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Plante Simpatia, Cultive Amizades

Esta afirmação está condicionada à nossa realidade instável de criaturas humanas, que reagem ao sabor da satisfação , ou não, dos seus desejos e ambições.Muitos de nós, fechamos “o tempo” com facilidade e “ descascamos” em quem não tem nada a ver. Temos dificuldade de separar as coisas.



Por um instante, maltratamos alguém e , sabidamente, nos reconhecemos injustos, mas por força do orgulho, não nos retratamos pela justificativa da pouca importância daquela pessoa em nossas vidas : “ Ela não faz diferença alguma pra mim”.E aqui caberá a lembrança de uma verdade física e interrelacional : “ O mundo dá voltas”.



A experiência que irei relatar é um exemplo inverso do que comentei até agora, mas sustenta a tese de que os laços que nos unem hoje, poderão nos fazer reencontrar tempos depois , em posições diferentes, e tudo dependerá de como estabelecemos nossas relações anteriormente.



Morei em Brasília por 2 anos, e lá tive um dileto amigo, Eduardo. Num bairro chamado Sudoeste, próximo ao trabalho, costumeiramente, fazíamos a refeição num pequeno e simples “self service”, cujo o dono chamávamos de Botafoguense, típico carioca malandro. A gozação rolava solta , sendo eu flamenguista e Eduardo um palmeirense roxo (verde é melhor).Fizemos uma amizade saudável, de profundo companheirismo e respeito entre nós.Voltei para o Rio e nunca mais soube do Botafoguense, que sinceramente nem o nome sabia.



Um dia parado no pedágio da Linha Amarela, fui abalroado por um carro dirigido por uma jovem. Estava atrasado para compromissos, por isso peguei os dados dela e do carro e fiquei de fazer contato posteriormente. Fiz algumas tentativas, mas infrutíferas, por isso decidi consertar o carro e cobrar a indenização.Na ocasião do incidente, ela me informou que trabalhava numa empresa de comunicação radiofônica, muito conhecida no Rio, e pra lá me dirigi.Ela me recebeu dizendo que o marido dela iria resolver e, na hora, por contato telefônico ele me despachou dizendo que iria fazer contato em outro momento para tratarmos do assunto. Enfim, me senti enrolado. Ela para ser agradável me perguntou se eu já tinha conhecido uma rádio por dentro, e passou a me apresentar as dependências. Quando em dado momento, ela abre a porta do setor FM, o comunicador se surpreende e na frente dela me cumprimenta efusivamente: “ E aí flamenguista, cadê o Eduardo? ”. Era o Botafoguense. Eu fiquei estupefato e ela caiu do cavalo, tanto que me indagou se eu o conhecia, respondi afirmativamente. Ela nos deixou sozinhos, e disse que voltava logo. Eu e o saudoso camarada trocamos breves palavras, inclusive sobre o fato que me levava a estar ali, e ela retornou me comunicando que seu pai ( um outro grande comunicador)estava me chamando para acertarmos a indenização.



Não tenho a menor dúvida de que eu sairia daquele local sem êxito de receber meu prejuízo, se não fosse o fato de conhecer o Botafoguense, pois a solução que havia sido adiada, foi prontamente resolvida, em razão do impacto daquele encontro “casual”, na frente da minha cicerone e devedora.Este acontecimento inopinado, me fez estar mais atento ao grande investimento em simpatia e cuidado com o outro.



Creio, nossas simpatias são nossos advogados de defesa nas questões da vida. Com certeza!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

ISTO É ESPIRITISMO ...

Mediante tanta confusão que se faz, é importante contar, de forma sucinta, a história recente do verdadeiro e único Espiritismo.

Há 18 de abril de 1857, o Sr. Allan Kardec lança a 1ª edição de O Livro dos Espíritos,através da editora do Sr. Paul Didier, contendo 501 questões, inicialmente, sendo ampliada três anos mais tarde (1860) para 1018 questões, que se desdobrou em outros quatro livros, tendo sua primeira parte ( As Causas Primárias) originado A Gênese (1868);a segunda parte (Mundo dos Espíritos) originado O Livro dos Médiuns (1861);a terceira parte (As Leis Morais) originado O Evangelho segundo o Espiritismo (1864), e a quarta parte (Esperanças e Consolações) originado a obra O Céu e o Inferno (1865).

Por isso, temos O Livro dos Espíritos como o marco fundamental do Espiritismo, por ser sua estrutura filosófica básica. A partir dele, o Espiritismo deixa de existir na eternidade dos princípios e fenômenos que sempre envolveram a criatura humana, para compor um corpo doutrinário logicamente estabelecido, para conviver conosco por todo sempre, em nossa marcha evolutiva, fazendo-nos refletir sobre Deus, o Espírito e sua imortalidade,as Vidas Sucessivas, o Intercâmbio entre o mundo visível e o invisível e as diversas Moradas no Universo.

É o cumprimento do advento do Consolador Prometido, anunciado pelo Mestre Jesus, que estará entre nós constantemente, nos unindo como irmãos de caminhada, independente das diferenças que nos caracterizem.São 153 anos de novas luzes sobre a mensagem de amor deixada pelo Cristo, para que ela se mantenha viva e pura entre nós, como desde aquele primeiro amor que nos foi dirigido pelo Cristo quando nos aconselhou que nos amássemos como Ele nos amou.

Isto é Espiritismo, o resto fica por conta da falta de conhecimento ou má fé de alguns.

sábado, 22 de maio de 2010

Meus Professores da Arte de Bem Viver (I)

Hoje (2010), em pleno século XXI, é bem compreensível a discussão em torno da tolerância religiosa, embora com muita resistência ainda. Os tão famigerados anos 2000 persistem com a tola idéia da supremacia de um pensamento religioso sobre o outro, sob chuvas de críticas e ataques que estimulam a dissensão entre seres humanos, filhos da mesma origem. Tudo paradoxal com o maior grau de escolaridade e esclarecimento experimentados atualmente na sociedade brasileira.



Imaginem a cinquenta anos atrás? Quanto preconceito? Contudo, vou lhes contar uma história de grandeza moral, que tive o privilégio de conviver.



Minha infância foi vivida em Irajá e morava com meus pais nos fundos da casa de minha avó paterna, Dona Áurea Tavares do Amaral, quantas saudades! Minha avó era mãe-de-santo, seu terreiro era em Coelho da Rocha, no antigo Estado do Rio de Janeiro. Naquele tempo ir até lá era uma odisséia. O ônibus nos deixava na estação de Coelho da Rocha e tínhamos que ir a pé até o terreiro na rua Belkiss, entre valas negras de um lado e outro.Não foi uma vez que vi uma filha-de-santo cair nas valas com suas indumentárias vaidosamente brancas e engomadas.



Já ao lado de nossa casa em Irajá morava uma família de evangélicos ( Assembléia de Deus). Lembro-me do nome das duas senhoras: Ciriaca e Gregota, sogra e nora, respectivamente .E, talvez, pela dificuldade dos nomes, nós as tratávamos pela alcunha de “vizinha”. Quando em minhas estripulias de criança, me descuidava, e o brinquedo era arremessado para sua casa, lá eu me punha pendurado no muro a gritar: “vizinha”,”vizinha”, e uma delas pacientemente pegava o objeto para me devolver a alegria.



Eram tempos tão difíceis de rigor e conservadorismo segundo os padrões impostos pela religião dominante. Lembro-me que aos cinco anos, ao ingressar no curso de alfabetização do Instituto Irajá, minha mãe me recomendou: “ Se perguntarem sua religião diga que é católico,não diga que somos umbandistas”. Isto denunciava seu medo de que eu fosse discriminado pela rejeição que se estendia aos participantes dos cultos afros.



Todavia, não era isto que eu via entre minha avó e a vizinha. Pessoas simples, mas dotadas de um comportamento ético na convivência.Nunca se ouviu qualquer referência menor de ambos os lados sobre a prática religiosa da outra. E tudo culminava na grande festa de Crispim e Crispiniano ( tipo Cosme e Damião), em 25 de outubro. Esta era a única vez que minha avó e seus filhos-de-santo comemoravam seus rituais em Irajá.Uma multidão de adultos e crianças acotovelados em frente de nossa casa, para se deliciarem de tantas guloseimas, e mais de 1000 sacos de doces que eram distribuídos, e depois disto a macumba que ocorria em minha casa, nos fundos.



No dia seguinte, em meio aquele cheiro que misturava doces e flores ( não me sai da memória olfativa), minha avó começava o “ritual” da divisão das sobras . E nunca esqueceu de preparar um prato de todas as iguarias para nossas vizinhas, que eram chamadas ao muro para lhes ser entregue carinhosamente, e que era recebido sempre com muita simpatia e educação por parte delas.Não posso assegurar, por falta de comprovação, se as vizinhas comiam, ou não, o que lhes era oferecido, mesmo por razões religiosas, mas recebiam de forma cordial, e nunca foi visto elas se desfazerem de forma ostensiva, com intuito de demonstrar que não se abasteceram daquele tipo de oferta.



Esta foi a conduta entre minha avó, macumbeira, e as vizinhas,evangélicas, até o fim.Mulheres.Incultas.Pobres.Viveram em tempos de maior segregação religiosa, mas por serem autênticas e valorosas não se deixaram contaminar, pelo contrário, estabeleceram na esfera de suas influências o traço do respeito e consideração entre si, ensinando-me que a alguns a religião eleva, e outros dignificam o meio religioso a que pertencem. Este último é o caso dessas três exemplares mulheres.



Meu preito de gratidão a estas geniais professoras da Vida.